Desempregado

Um Administrador de Empresas por formação, bancário desempregado há muito tempo. Mesmo com MBA em OS&M e RH estava com a família em dificuldade.
Vendia cachorro quente na esquina... se virava.
Com uma resistência que só os brasileiros têm, o Jorjão foi tentar mais um emprego:

No escritório, o entrevistador avaliou os relatórios dos demais especialistas que o analisaram e concluiu que Jorjão tinha exatamente o perfil desejado e as virtudes ideais para o cargo.

Questionara-lhe:
- "Fala outras línguas?”.
- "Espanhol, francês e inglês fluentes. Leio e escrevo chinês, japonês, árabe, russo e leio esperanto e hebraico.”.
- "Qual foi seu último salário?”.
- "Salário mínimo". Respondeu Jorjão.
- "O senhor tem viajado para o exterior nos últimos 5 anos?".
- "Há 3 anos, fui a última vez pro Paraguai.".
- "Há algum impedimento de viajar ao exterior?".
- "Não, senhor, nenhum!”.

- "Sr. Jorge, nossa multinacional tem sede em Caracas(VE) e, se vier a trabalhar conosco, comumente deverá viajar para toda a América Latina, Nova Iorque, dentre outras cidades dos EUA e Canadá, Inglaterra, Paris, todo litoral da França, Espanha e Itália, inclusive Roma, Mônaco. Ásia, extremo oriente e outros locais de interesse da empresa. Receberá inicial de US$10 mil mensais, adiantamento de diárias a US$ 200/dia, bonificação anual, aluguel de uma casa compatível com o cargo e plano de saúde familiar internacional. No ato da sua contratação, receberá um veículo Audi A6 e uma BMW, à sua escolha no seu nome, externando a imagem de profissional de uma empresa bem sucedida.".

- "Unbeliveble!!!". Pensou Jorjão.

- “Sr. Jorge, não é praxe que minha decisão, tão clara e precisa como agora, me permita expressá-la. Por mim, este trabalho é seu. Não o confirmo agora porque devo levar minha decisão à apreciação da Diretoria na próxima 5ª feira. Mas praticamente o garanto. Se até 6ª feira, às 10 da manhã, o senhor NÃO receber um telegrama cancelando minha decisão, peço que traga, já na 2ª feira, estes documentos e prepare-se para imediatamente ir ao Caribe receber treinamento na Sede da empresa. Se a diretoria NÃO concordar comigo, enviarei ao senhor, um telegrama URGENTE Sedex-10 para que o receba até as 10h de 6ª feira.”.

Jorjão despediu-se e saiu do escritório radiante.
Agora era só esperar até as 10h da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama. Sexta-feira mais feliz não poderia haver.

Jorjão reuniu a família, contou as boas novas, convocou o bairro todo para uma churrascada de despedida, à base de comida e música ao vivo.

Quinta à tarde já tinha um barril de chope aberto.
À noite, a festa fervia... virou madrugada e raiou o dia!

A banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta.
Madrugada e a mulher de Jorjão aflita. Achava tudo um exagero..
A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pro lado do Jorjão.
E a banda tocava e o chope gelado rolava!
O povo dançava!
Jorjão já era o rei do bairro.

Gastou horrores no cartão de crédito para encher a pança dos amigos e vizinhos.
Tudo por conta do adiantamento das diárias.
A mulher do Jorjão resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba, meio assustada.

Às nove horas e cinqüenta e cinco minutos da manhã de sexta feira, aparece na esquina, buzinando feito louca, uma motoca amarela... do Correio!

A festa parou!
A banda calou!
O sax engasgou!
Um bêbado arrotou!
Uma velha peidou!
Um cachorro uivou!

- “Joguem água na churrasqueira, o chope esquentou!”
A mulher do Jorjão desmaiou!

Meu Deus, e agora, quem pagaria a conta da festa?
E a frase mais ouvida: “Coitado do Jorjão!”.

A motoca parou!
O cara da motoca se dirigiu ao Jorjão:
- "Aqui é o nº. 942 da rua"?
- “Si..., sim!...”
- "Telegrama para o senhor:..." (procurava na sacola) "hummmm...: Jorge".

A multidão não resistiu em coro: “OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!”

Jorjão não acreditava...
Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos.
Silêncio total. Não se ouvia sequer uma mosca!

Jorjão respirou fundo e abriu o envelope do telegrama tremendo, enquanto uma lágrima rolava, molhando o telegrama. Olhou de novo para o povo e a consternação era geral.
Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.

O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava: "E agora, quem vai pagar essa festa toda?".

Jorjão recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava.
Então deu um berro triunfal e começou a gritar feliz e eufórico:





"A VOVÓ MORREEEEUUU!!!!!!!
A VOVÓ MORREEEEUUU!!!!!!!”